21 novembro 2011

Obesidade Zero





À frente do projeto Obesidade Zero, o médico Daniel Magnoni combate a epidemia do excesso de gordura com ideias simples e testadas em outros países. Foto: Olga Vlahou


O cardiologista Daniel Magnoni  apresenta um panorama preocupante da obesidade no Brasil. Uma pesquisa  conduzida pelo médico, com base em dados do alistamento militar obrigatório, mostra que jovens na faixa etária de 18 anos estão ficando mais pesados a cada ano.
De acordo com o estudo, que observou a ficha de indivíduos nascidos entre 1957 e 1991, a porcentagem de pessoas com sobrepeso no alistamento do Exército passou de 6,6% para 15,5% no período analisado. 
A preocupação com a obesidade e a alimentação transformou-se na principal bandeira da carreira do cardiologista, que ocupou a presidência da Sociedade Brasileira de Nutrição e a vice-presidência da Federação Latino-americana de Nutrição. O médico também lançou oito livros e o projeto Obesidade Zero, focado no combate ao problema.
Magnoni conta que o programa, criado há um ano e meio e aprovado como modelo para a América Latina pela federação de nutrição da região, pretende modificar a forma como o Brasil lida com a doença, a começar pela inversão da hierarquia do sistema de saúde do País. “Os postos de saúde devem obrigatoriamente medir e pesar os pacientes para termos dados objetivos e encaminhar essas pessoas para tratamento médico.”
O cardiologista também propõe a indicação para atividades físicas com base no perfil econômico, etário e cultural do indivíduo.
Em Munique, frutas são vendidas em barracas nas ruas. Foto: Dr. Daniel Magnoni
Um panorama que precisa ser alterado, pois segundo dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 50,1% dos homens acima de 20 anos estavam com sobrepeso, assim como 48% das mulheres na mesma faixa etária. O estudo registrou ainda que 12,4% dos brasileiros e 16,9% das brasileiras estavam obesos.
O cenário, segundo o médico, é causado pela falta de políticas públicas em vigor para solucionar o problema. “Pensa-se na tuberculose, na hipertensão e na Aids, mas não na nossa maior epidemia.” Ele acrescenta que a obesidade e suas doenças relacionadas, como diabetes e hipertensão, aumentam as despesas do sistema de saúde com tratamentos mais prolongados em relação a pacientes saudáveis.
Magnoni destaca mais uma iniciativa capaz de melhorar a alimentação dos brasileiros, utilizada amplamente na Alemanha. A licitação de barracas de frutas limpas e padronizadas pelas cidades, explica, geraria empregos e investimentos. “Estive em Munique e lá essa ação funciona há tempos, oferecendo uma opção saudável à coxinha.”
O cardiologista aproveita a menção ao popular salgadinho gorduroso para lembrar da necessidade de proporcionar uma educação alimentar às crianças. Ele defende, por exemplo, ser preciso banir alimentos industrializados das merendas e incluir, em porções pequenas, produtos ricos em fibras e vitaminas. “Conscientizar os jovens é muito importante, pois se formam educadores capazes de mudar a dieta da família.”
Fundamental, martela o médico, é alterar a relação da sociedade com os alimentos, uma vez que as interações interpessoais estão majoritariamente ligadas à comida. “A mãe sempre quer premiar o filho estudioso ou o que come toda a refeição com um sorvete ou chocolate. Além disso, quando saímos com alguém vamos a uma pizzaria ou a uma lanchonete.” Segundo Magnoni, essa percepção é construída desde a infância e muitas vezes se baseia na publicidade. Por isso, pede um maior controle dos comerciais, em geral de tevê, que incentivam o consumo de alimentos prejudiciais à saúde. “As crianças são vítimas de um forte bombardeio de propagandas destes produtos e são influenciadas a consumir dois ou três ‘lanches felizes’ apenas para ganhar os brinquedos que os acompanham.”

Cenário. Nas praias, os sinais de um país que engorda. Foto: Guilherme Dionizio/Folha Press

Nos últimos 40 anos, aumentou o número de jovens obesos na faixa dos 18 anos. Segundo estudo de Daniel Magnoni, baseado em dados do alistamento militar obrigatório feito pelo Exército brasileiro, a proporção de indivíduos com esse perfil subiu de 0,9% entre os jovens nascidos em 1960 para 2,8% entre os nascidos em 1990. O levantamento analisa apenas homens com a idade mínima para servir às Forças Armadas no Brasil.
A pesquisa, que observou 2.540.099 jovens, 99,1% deles habitantes do estado de São Paulo, identificou uma evolução do peso maior que a da altura. Em 1960, os alistados tinham em média 168,4 centímetros de altura e pesavam 61,8 quilos. Em 1991, o peso médio era
de 69 quilos e a estatura 174,8 centímetros. No período, os indivíduos analisados ficaram 10,5% mais gordos e apenas 3,7% mais altos.
Outra variação registrada foi a proporção de pessoas bem nutridas (eutróficas), ou com o IMC inferior a 25, que caiu de 92,5% para 81,7%.
Segundo o levantamento, a partir de 1968 o peso médio dos alistados passa a aumentar em média um quilo por ano. “Nessa época, houve algumas mudanças sociais e de políticas públicas no País. Deixa-se de fortalecer a amamentação materna em apoio ao uso do leite em pó para ganhar peso”, diz o médico. “Havia inclusive o prêmio Bebê Johnson, que premiava a criança mais gordinha. Hoje isso seria um crime”, diz Magnoni.
Fonte: www.cartacapital.com.br - reportagem de Gabriel Bonis                                                         
Beijos!
Aurea

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